"O mistério do mal é, de todos, o mais profundo. E o mistério do ato criativo primordial, quando Deus criou a alma humana, fê-la à sua própria imagem e lhe apresentou o terrível dilema: centrar-se sobre si própria, ou centrar-se nele, sem o qual não poderia subsistir de todo... O mistério renova-se diariamente em mim, como sucede a cada homem nascido de mulher. Para onde vou? Para onde voltar-me? À semelhança de Moisés, sou chamado ao cume da montanha, para interceder pelo meu povo. Não poderei descer, até que me levem morto. Não poderei subir, até que Deus queira chamar-me para si. O mais que posso esperar dos meus irmãos na Igreja é que me amparem os braços, quando eu me cansar desta constante intercessão... E eis aqui os contornos de outro mistério: que eu, chamado a despender tanto, me encontre tão pobre das coisas de Deus... Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não nos deixeis cair em tentação e livrai-nos de todo o mal. Amém."
Morris West, As sandálias do pescador