segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
"Não eras uma boa professora, posso agora dizer-te; não contemplavas a lentidão do raciocínio alheio, a modorra mental em que a maioria dos alunos se habituara a viver. Fazias tremendos saltos epistemológicos e quem não te entendesse ficava riscado. Eras de uma agilidade mental sem complacência.
Confesso que muitas vezes eu próprio não te entendia, mas entendia pelo menos que não valia a pena dizer-te. Nem tu serias capaz de explicar esses saltos; voavas sobre as matérias como um pardal atrevido, numa ambição de águia absoluta. Sim, eras um pardal convencido de ser águia. Não te zangues. Todos nós saltamos de galho em galho como pardais, poucos ousam o voo picado das águias. Faz-me falta essa tua ousadia, no deserto da noite que agora atravesso. Fazes-me falta. Sou professor de mentirosos amadores, não posso mentir-te."
Inês Pedrosa, Fazes-me falta