segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Três Idades


Heike Fuchs


A vez primeira que te vi, 
Era eu menino e tu menina. 
Sorrias tanto... Havia em ti 
Graça de instinto, airosa e fina. 
Eras pequena, eras franzina...
Ao ver-te, a rir numa gavota, 
Meu coração entristeceu. 
Por quê? Relembro, nota a nota, 
Essa ária como enterneceu 
O meu olhar cheio do teu.
Quando te vi segunda vez, 
Já eras moça, e com que encanto 
A adolescência em ti se fez! 
Flor e botão... Sorrias tanto... 
E o teu sorriso foi meu pranto...
Já eras moça... Eu, um menino... 
Como contar-te o que passei? 
Seguiste alegre o teu destino... 
Em pobres versos te chorei, 
Teu caro nome abençoei.
Vejo-e agora. Oito anos faz, 
Oito anos faz que não te via... 
Quanta mudança o tempo traz 
Em sua atroz monotonia! 
Que é do teu riso de alegria?
Foi bem cruel o teu desgosto. 
Essa tristeza é que mo diz... 
Ele marcou sobre o teu rosto 
A imperecível cicatriz: 
És triste até quando sorris...
Porém teu vulto conservou 
A mesma graça ingênua e fina... 
A desventura te afeiçoou 
À tua imagem de menina. 
E estás delgada, estás franzina...


Manuel Bandeira