MaXu |
Eu não sei se por esse vento frio entrando pela janela
ou quem sabe por esse vento frio entrando pela janela
ou mesmo por esse aconchego de meias de lãs e esse vento frio
entrando pela janela
ou por qualquer que seja o que for
[eu quero te dizer tantas coisas:
Todos os passos que dei um a um
[e todas as coisas que passaram
e tudo que foi se misturando ao que eu era.
Pra você ir sabendo o que sou
[posso cantar cada música que ouvi
e cada livro e cada bula de remédio e cada rosto
e cada tostão emprestado cada choro.
Os avisos e as ruas
[os andaimes as manchetes os incêndios os sinais.
Todas as manhãs. Todos os dias santos.
Tudo que me atravessou eu quero te mostrar
o corpo que ganhei esses anos os fios e as falhas
a voz e o avesso e o tempero e a calma.
Quero te contar o silêncio alcançado a custa de guerras
e as terras que plantei e os temporais. Os temporais.
E os nós na garganta.
É maio e eu morro de vergonha de falar de amor.
Mas esse vinho quem sabe veio aos verbos mostrar
que preciso de sua boca e seu cabelo e seu cheiro e sua mão:
eu não sou só verso
sou um corpo em lençóis de pele a te vestir como luva.
Meu corpo a te vestir
como luva.
Embriagada de vento e vinho penso na morte
e em seu pau duro.
Viviane Mosé
Viviane Mosé