segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Outra carta

MaXu


Eu não sei se por esse vento frio entrando pela janela
ou quem sabe por esse vento frio entrando pela janela
ou mesmo por esse aconchego de meias de lãs e esse vento frio
entrando pela janela
ou por qualquer que seja o que for
[eu quero te dizer tantas coisas:
Todos os passos que dei um a um
[e todas as coisas que passaram
e tudo que foi se misturando ao que eu era.
Pra você ir sabendo o que sou
[posso cantar cada música que ouvi
e cada livro e cada bula de remédio e cada rosto
e cada tostão emprestado cada choro.
Os avisos e as ruas
[os andaimes as manchetes os incêndios os sinais.
Todas as manhãs. Todos os dias santos.
Tudo que me atravessou eu quero te mostrar
o corpo que ganhei esses anos os fios e as falhas
a voz e o avesso e o tempero e a calma.
Quero te contar o silêncio alcançado a custa de guerras
e as terras que plantei e os temporais. Os temporais.
E os nós na garganta.
É maio e eu morro de vergonha de falar de amor.
Mas esse vinho quem sabe veio aos verbos mostrar
que preciso de sua boca e seu cabelo e seu cheiro e sua mão:
eu não sou só verso
sou um corpo em lençóis de pele a te vestir como luva.
Meu corpo a te vestir
como luva.
Embriagada de vento e vinho penso na morte
e em seu pau duro.


Viviane Mosé