terça-feira, 25 de setembro de 2012

Satânia

Julia Stegner by Daniele e Iango for Muse


Nua, de pé, solto o cabelo às costas, 
Sorri. Na alcova perfumada e quente, 
Pela janela, como um rio enorme 
De áureas ondas tranqüilas e impalpáveis, 
Profusamente a luz do meio-dia 
Entra e se espalha palpitante e viva. 
Entra, parte-se em feixes rutilantes, 
Aviva as cores das tapeçarias, 
Doura os espelhos e os cristais inflama. 
Depois, tremendo, como a arfar, desliza 
Pelo chão, desenrola-se e, mais leve, 
Como uma vaga preciosa e lenta, 
Vem lhe beijar a pequenina ponta 
Do pequenino pé macio e branco. 

Sobe... cinge-lhe a perna longamente; 
Sobe...- e que volta sensual descreve 
Para abranger todo o quadril!- prossegue, 
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura, 
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios, 
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo 
Da axila, acende-lhe o coral da boca, 
E antes de se ir perder na escura noite, 
Na densa noite dos cabelos negros, 
Pára confusa, a palpitar, diante 
Da luz mais bela dos seus grandes olhos. 

E aos mornos beijos, às carícias ternas, 
Da luz, cerrando levemente os cílios, 
Satânia os lábios úmidos encurva, 
E da boca na púrpura sangrenta 
Abre um curto sorriso de volúpia... 


Olavo Bilac