sexta-feira, 3 de agosto de 2012




Essa sensação de ir descalço, a camisa
cheirando a sol de varal.

Tu, minha mulher, eras corrente e água calma,
as oscilações da palha e trigo.

Teu corpo arvorava nos lábios indecisos ou nos cabelos?
Na encosta da cinta ou nas dunas dos seios?
Quando começavas a te revelar? No desejo apetecido
ou na fome de um filho?
Como definir se a luz deitou as vestes?

Cumprias distâncias em mim.
Madrugando não alcançaria.

Venho de tua lonjura, os braços eram remos
no barco e aço da âncora.
Acostumado à extensão das raízes,
não sobrevivo no vaso dos pés.
Passei a vida aprendendo a respeitar teu espaço. Como povoá-lo
após tua partida?


Fabrício Carpinejar