Anouk Lacasse |
Da janela do quarto enluarada, a menina espia as sombras da manhã.
O vestido esvoaça, o vento é leve, o silêncio acalanta.
E quando às vezes o vento, em sussurro, vem de manso e dá carícia,
ela sonha e agradece esse ventar.
O cabelo é macio e cai no ombro, com jeito que acaba de acordar.
Uma nuvem, uma estrela,
e de repente se ouve ao longe o cantar do galo atento.
Ela sonha e respira a madrugada.
E se sente tomar conta da paisagem, sem anseio,
apenas com a calma do ambiente.
Ela pensa e a preguiça é o único sentimento.
A fusão menina e madrugada é como uma nuvem em contato com outra.
É perfeita e suave até um ponto em que se tem infantilmente o leve engano de que a menina é que está solta.
E é quase o vento que acaricia, na janela, a própria madrugada.
Oswaldo Montenegro