Marina Podgaevskaya |
Era água, mas ardia.
No centro do teu corpo
ardia.
Como um sol em plena chuva
ardia.
Era boca, mas navegava.
Entre beijo e barco se perdia,
água já sem viagem,
navegava.
Rumo a um destino
que fica depois do lugar derradeiro
navegava.
Pensei que era a noite,
mas era a terra.
Em mim se deitava um corpo
e era eu que me erguia
vazio como um rio nu.
Terra que entreabria e penetrava
e, afinal, era semente,
flecha de luz,
cinza antes de fogo,
semente.
No falso suicídio da estrela-cadente
era terra,
água,
semente,
Tu.
Mia Couto