terça-feira, 22 de maio de 2012

A poesia morreu?



A poesia não morreu. Tá por aí, disfarçada.
Raramente se veste de rimas, pra não ser reconhecida.
Só de vez em quando aparece, assim mesmo de noite, medrosa que está de ser chamada de piegas.
Os poetas se esbarram, disfarçados como agentes secretos.
Fingem que não são, se travestem de práticos e fazem pose de "frios".
De vez em quando um boato: "Foi vista uma poesia no subúrbio. Ninguém comprovou, mas dizem..."
Mas se a poesia não morreu, o que havia no caixão, no enterro dela?
Há quem sustente que era a "certeza absoluta". Pode ser, já que esta, ninguém nega: está morta.
É levada da breca, essa menina poesia.
Como Peter Pan, jamais cresceu.
Pula do olho da avó pra menininha negra, batendo palmas diante do bolinho de seus três anos.
Anda em passarinhos, em noites de lua e em cada saudade que alguém tem coragem de confessar.
Tem um caso com o amor, embora já tenha sido vista sem ele.
Virou moderna, a poesia – quase feminista.
Nenhuma criança duvida da sua existência, daí a maioria dos adultos não acreditarem nela.
É como Papai Noel: existe sempre que alguém faz algo e lhe atribui o gesto.
Jamais aparece na política, mas ta sempre nos olhos do prefeito quando ele vê sua filha dormindo.
Jamais a poesia é visível na cidade grande, mas ta sempre no olho do menino que anda por ela.
Enquanto discutem se ela morreu, a poesia zela por nós, aconchega nossas dores e descrenças como um amigo que desse as mãos a Deus, pra levá-Lo aos humanos.


Oswaldo Montenegro