Primeiro Poema no Vazio
Buscava tudo o que havia
de nunca mais encontrar
em sua face macia
em seu leve caminhar,
nas rotas claras do dia
nos verdes sulcos do mar
e de tudo quanto havia
de nunca mais encontrar
restou a forma vazia
suspensa no seu olhar
e a tênue melancolia
de quem não se soube achar
nas rotas claras do dia
nos verdes sulcos do mar.
Segundo Poema no Vazio
Este vento que chegou
talvez da costa irlandesa
e entrando pela janela
debruçou-se em minha mesa,
e fez agora esse gesto
de entre alegria e surpresa,
é o mesmo que há muitos anos
lavou teu rosto, Teresa,
e te deixou sob a pele
essa invisível tristeza
de quem descobre o que existe
de mágoa, atrás da beleza
e por isso se arremessa,
água solta da represa,
e embora deixando os olhos
nos objetos da mesa
perde o pensamento e a sombra
na fria costa irlandesa.
Carlos Pena Filho
imagens: Antonio Sgarbossa