quinta-feira, 22 de março de 2012

Zina Vasileva


A quem deixar o meu guarda-roupa oculto
o guarda-roupa fantasma
de todos os vestidos
que tive e que me abandonaram
os vestidos
que nunca tive e que vesti em segredo

O vestido que veio demasiado cedo
e que nunca me caiu bem

O vestido
que chegou já tarde
para ir à festa
quando eu já tinha adormecido

O vestido de criança
tão igual ao vestido
da primeira boneca

O da menina com o corpete já estreito
que apertava os seios doendo-lhe em casulo

O da adolescente que pressentia o homem
ladrão de túnicas na sesta sufocante

O vestido esquecido
da mulher que sob a sombra
do homem eclipse ocultou-se uma noite
e amanheceu como a lua cheia
surpreendida pela luz na metade do céu

O vestido de guerra rasgado
como bandeira
da mãe partida em dois
para sentir-se inteira

O vestido de luto que não levei para os meus
mortos que ainda vivem

Os vestidos que alguém me emprestou para sonhar

Quando chegar a morte também será um vestido
que não verei porque estarei a dormir.


Josefina Plá