o verme no meu próprio ouvido, a serpente enrolada na árvore
Sento-me na mente do carvalho e me oculto na rosa,
sei se alguém desperta, ninguém a não ser minha morte
Vinde a mim corpos, vinde a mim profecias,
vinde a mim agouros, vinde espíritos e visões
Eu recebo tudo, morro de câncer, entro no caixão para sempre,
fecho meu olho, desapareço
Caio sobre mim mesmo na neve de inverno,
rolo numa grande roda pela chuva,
observo a convulsão dos que fodem
memória apagando-se no cérebro, homens imitando cães
Gozo no ventre de uma mulher,
a juventude estendendo seus seios e coxas para o sexo,
o caralho pulando para dentro
Derramando sua semente nos lábios de Yin,
feras dançam no Sião, cantam ópera em Moscou
Os garotos excitados ao crepúsculo nas varandas,
chego a Nova York, toco meu jazz num Clavicêmbalo de Chicago
Amor que me engendrou retorno à minha origem sem nada perder,
flutuo sobre o vomitório
Empolgado por minha imortalidade,
empolgado por essa infinitude na qual aposto e a qual enterro
Vem Poeta, cala-te, come minha palavra e prova minha boca no teu ouvido.
Allen Ginsberg
pintura: Duma