quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Mulheres
Quando nasci o sexo foi um destino. Não se pode escolher ser poeta.
Mulheres eu nunca amei nenhuma sem dúvida porque as amei em bloco. Foi um amor longo e sem alegria. Elas também me amaram sem desejo e sem gozo.
Olhei para elas com a nostalgia de uma vida mais bela. Quando quis ser melhor quis ser mulher.
Depois me esqueci. Devorei a costela de Adão na travessia do deserto. Fui homem, poeta, amei outros homens. Tive fome.
Cheguei na praia deste mar eterno, no sul do Brasil. Meu cheiro é de sal virgem e de iodo azul. Sei que uma mulher devolverá ao mar o peixe com uma moeda na boca.
Ela escreve meu poema. Eu aguardo.
Alfredo Fressia
arte: Ana Davidovic