terça-feira, 22 de novembro de 2011



Na nudez das mãos o poema tarda.
Ébria de um proibido mel recuso
dedilhar, ao acaso, definições simbólicas,
ou românticas entoações, a justificar
o ritmo das palavras. Cativa de outras falas,
rodeio-me de letras perturbadas para dizer paixão.
A semente e a seiva, o parto e a morte,
a montanha e a vertigem,
incendeiam-me os lábios
e fustigam os meus passos em direção
a todas as madrugadas.
Quero um poema, ainda que imperfeito,
mas que fale de amor.
Que diga o corpo inteiro,
antevendo o júbilo das mãos.
Que diga a boca adjacente à boca,
e os olhos em festa, e a lua
ardendo, atônita, nas veias.
Um poema onde doa a ausência
dos abraços, onde se redima
a mendicidade do olhar.


 Graça Pires