sexta-feira, 13 de maio de 2011


um dia virás aqui ler-me
tu ainda não sabes das gaivotas surdas que tombam
nem dos tigres velozes nos meus ouvidos

um dia saberás da luta das aves e do tremor da terra enquanto fumas

um dia virás aqui ler-te
eu ainda não sei das correntes mudas que prendes nem das cutículas pendentes dos teus dedos nos meus dentes

um dia saberei do cheiro que guardas fora dos livros e do poema que amas na porta do meu corpo

um dia virei aqui ler-me
tu ainda não sabes da região do vinho do meu sangue nem da curta metragem das horas nas tuas cordas vocais

um dia saberás do tempo e do interruptor que apaga o medo

um dia virei aqui ler-te
eu ainda não sei das patas nervosas que aumentas nem dos olhos cansados na pele do meu rosto

um dia saberei dos dias que matas e dos cadáveres que comes ao jantar

um dia viremos aqui ler-nos
ainda não sabemos a data que escorre na janela nem a saliva do beijo da mulher que te pede um cigarro

um dia saberemos ser dia depois da madrugada


Alice Macedo Campos