quinta-feira, 19 de maio de 2011

Em algum lugar onde nunca estive


Chelin Sanjuan

n' algum lugar onde nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o  seu silêncio:
em teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu olhar mais ligeiro facilmente me descerra
embora eu me tenha me fechado como dedos, n'algum lugar
 me abres sempre, pétala por pétala, como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
 a neve cuidadosamente  descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo se iguala
o poder de tua intensa fragilidade; cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes
restituindo a  morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que  fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
 voz de teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem as mãos tão pequenas.


e.e. Cummings
tradução: Augusto de Campos


***


somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience,your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully, mysteriously)her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility:whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands