quarta-feira, 25 de maio de 2011

A velha juventude

 

Alberto Pancorbo


Não caio, mesmo que as forças me faltem,

cruzo-me com a tarde e com o assombro do mar

onde o meu coração aguardará a noite como as aves

nos ninhos construídos no interior da falésia.


Será uma noite surpreendente, uma noite sem ti,

porque será mais noite ainda, sem aquele brilho azul

que só as nossas noites tinham. E eu sinto-me vazio

como uma criança que fugiu de casa e não sabe voltar.


O meu olhar é uma pedra acesa na tua recordação,

a minha carne sente a falta da tua, e nas minhas mãos

o sol deixa os últimos raios de âmbar, as tímidas marcas

que os meus dentes costumavam gravar na tua pele.


Quando a noite vier fechar as suas portas,

lembrar-me-ei do interior da nossa casa, quando

esperava por ti, doente de esperar, mas fascinado

como só poderia sentir-se um amante faminto.


Caminho e não caio, mesmo que me faltem

as forças que me trouxeram para longe de ti. Sou

esse velho amante cheio de juventude, a quem a vida

não quis renovar mais que os próprios versos.


JOAQUIM PESSOA