quarta-feira, 18 de maio de 2011



Alguém escreve sobre os espelhos de sombra
A noite chega com todos os seus rebanhos
  Uma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo
Há um íman que nos atrai para o interior da montanha.
  Os navios deslizam nos estuários do vento.
Alguma coisa ascende de uma região negra.
Alguém escreve sobre os espelhos da sombra.
A passageira da noite vacila como um ser silencioso.
  O último pássaro calou-se. As estrelas acenderam-se.
  As ondas adormeceram com as cores e as imagens.
As portas subterrâneas têm perfumes silvestres.
Que sedosa e fluida é a água desta noite!
Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos.
Alguém me habita como uma árvore ou um planeta.
  Estou perto e estou longe no coração do mundo


António Ramos Rosa
A Rosa Esquerda, 1991