O outono já! - Mas por que ter saudades de um eterno sol, se estamos empenhados na descoberta da claridade divina, - longe dos que morrem nas estações?
O outono. Nossa barca elevada nas brumas imóveis navega em direção ao porto da miséria, a cidade enorme de céu sujo de fogo e lodo. Ah! Os farrapos podres, o pão ensopado de chuva, a embriaguez, os mil amores que me trazem crucificado! Não acabará um dia este vampiro, tirano de milhões de almas e de corpos mortos que serão ju1gados! Revejo-me de pele corroída pelo lodo e pela peste, cabelos e axilas cheios de piolhos, e piolhos mais gordos ainda no coração, estendido entre desconhecidos sem idade, sem sentimento... Bem poderia acabar aí... A horrenda evocação!
Arthur Rimbaud