John Bagnold Burgess |
Avançam em velocidade supersônica os lançamentos de e-books, livros disponibilizados pela internet para serem lidos pelo computador. Sem lombada, sem volume, sem cheiro. Virtuais. Já estão disponíveis tantos clássicos da literatura universal até obras inéditas escritas on-line, que podem ser acessadas durante o processo de criação do autor, como é o caso do livro Anjos de Badaró, de Mário Prata. Alguma má notícia aí? Nenhuma. São obras com custo muito baixo e que, como qualquer livro, podem ter ótimos ou péssimos conteúdos, serem bem ou mal escritos, e o prazer que proporcionam ao leitor pode ser o mesmo de qualquer brochura ou livro de capa dura. Só que não existe relação afetiva. É como sexo sem amor.
Eu vou acabar sucumbindo, inevitavelmente. Escritor nenhum pode dar-se ao luxo de recusar a chance de ver seu trabalho baixar no computador de milhões de assinantes por um custo até cinco vezes menor do que um livro impresso. Não há como virar as costas para as fibras óticas. Mas só eu sei o quanto me dói abrir mão do papel.
Revistas, blocos de anotações, agendas, dicionários, cadernos, ainda não troquei nada disso pela informática. Não é um bom momento para enaltecê-los, já que andam querendo dizimar o que resta da floresta Amazônica, mas o papel, para mim, está intimamente ligado ao tato, e isso é a base de qualquer relação.
Eu preciso pegar para gostar. Tocar. Sentir o cheiro. Apertar contra o peito. Eu levo o livro pra cama e quase transo com ele. Quando acordo e o vejo deitado ao meu lado, adormecido sobre a mesinha de cabeceira, fico tentada a sorrir e perguntar se foi bom para ele também. Para mim sempre é ótimo. E ele não exige fidelidade. Espalhados pela casa, acolho milhares de outros livros de diversos tamanhos, uns mais sérios, outros mais divertidos, uns amores para quem eu sempre volto, outros amores de uma noite só. Livros profundos, livros leves, livros retangulares, livros de bolso, uns apenas decorativos, outros essenciais. Todos pulsando. Têm temperatura, têm as marcas da idade, têm dedicatórias e anotações nas margens. São seres vivos.
Leitura é sempre um prazer, mas pelo computador é um prazer menos envolvente. Acessou, leu, gozou e desligou. Sexo sem amor.
Martha Medeiros