domingo, 27 de fevereiro de 2011

Poema



Esperamos assim. Por esperança, a espera
vai-se tornando sonho afável; mas descubro
no olhar que te procura uma névoa de orvalho.
Qualquer palavra que te diga é sem sentido.

Eu estou sonhando, eu nada escuto, eu nada alcanço.
Quem me vê não me vê, que estou fora do mundo.
Lá, constante presença em memória guardada,
percebo a tua essência – e não sei nem teu nome.

E à tentação de tantas máscaras felizes
Há mil rostos na terra: e agora não consigo
Recordar um sequer. Onde estás? Inventei-te?
Só vejo o que não vejo e que não sei se existe.
se opõe meu leal, nítido sangue.


Cecília Meireles.