quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Jack Kerouac, Viajante Solitário

“Na verdade, não sou um beat, mas sim um estranho e solitário católico, louco e místico... Planos finais: solidão eremítica nas florestas, escrever tranquilamente na velhice, vaga esperança do Paraíso (como, de resto, todo mundo)...
Queixa favorita sobre o mundo contemporâneo: o desprezo jocoso das pessoas “respeitáveis”.... que, por não levarem nada a sério, estão destruindo velhos sentimentos humanos, mais antigos do que a Time Magazine... Dave Garroways rindo-se de pombas brancas...
(...)
Viajante Solitário é uma coleção de textos publicados e inéditos conectados por um tema comum: viagens.
As viagens percorrem os Estados Unidos do sul para a costa leste, costa oeste, o noroeste distante, México, Marrocos, Paris, Londres, os oceanos Atlântico e o Pacífico a bordo de navios, e as várias pessoas e cidades interessantes encontradas nesses lugares.
Trabalhos em ferrovias, no mar, misticismo, trabalho na montanha, lascívia, solipsismo, auto-indulgência, drogas, igrejas, museus de artes, ruas urbanas, um apanhado geral da vida vivida por um vagabundo sem grana e educado de forma independente, indo a lugar algum.
Seu objetivo e propósito é simplesmente poesia, ou descrição natural.

- “O mundo pode ser louco, até que finalmente a gente possa compreender que, “oh, bem, na verdade tudo é tão repetitivo”

- “Ah, América, tão imensa, tão triste, tão negra, você é como as filhas de um verão seco que se tornaram quebradiças antes do final de agosto, você não tem conserto, todos que você vê, não há nada além da desesperança seca e soturna, o conhecimento da morte iminente, o sofrimento da vida presente, luzes natalinas não vão salvá-lo nem a ninguém, de nada adianta acender enfeites de natal em um arbusto, morto em agosto à noite, e lhe dar o aspecto de outra coisa qualquer, que espécie de Natal é esse que você celebra no vazio?... nessa nuvem nebulosa?”


-" O próximo touro! – Primeiro os velhos garotos juntam o sangue com pás, jogam em um carrinho de mão e saem de cena. O alisador da arena retorna calmamente com seu ancinho. – 'Olé', garotas jogam flores para o assassino de animais de colete bordado. E eu vi como todo mundo morre e ninguém vai se importar, senti como é horrível viver apenas para morrer, como um touro encurralado em uma arena humana estridente.


Jack Kerouac, Viajante Solitário