quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Caroline Westerhout

Tu, amada,
tu antecipadamente perdida, tu que jamais chegaste,
não sei que notas te são mais queridas.
Não mais tento, sob a agitação do que vem surgindo,
reconhecer-te. Em mim todas
as grandes imagens, as paisagens remotas,
cidades e torres e pontes e im-
previstos desvios dos caminhos
e a violência destas terras
divididas outrora com deuses:
em mim tudo cresce contigo,
com tua fugidia lembrança.

Ah, tu és os jardins,
jardins que fitei com tamanha
esperança. Uma janela aberta
na casa de campo — e pensativa
quase te voltas pra mim. Becos encontrei —
tinhas acabado de os percorrer,
e muitas vezes as vitrines dos comerciantes,
ainda embaralhadas contigo, espelharam de volta,
assustadas, minha tão súbita imagem. — Quem sabe
se o mesmo pássaro não ressoou através de nós, ontem,
um por um, no anoitecer?


Rainer Maria Rilke
(tradução: Gabriel Dirma de A. Leitão)