segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Era música ...


Era música ...

e então soprou um vento de ternura intensa.
E as nuvens se dispersaram, e eu vi que meu coração emergia
como um alto cume de montanha, dourado de sol,
musicado de pássaros e águas.

Olhava teus olhos, tuas mãos, teus cabelos, teu corpo ...
Teu corpo era como um caminho sinuoso por onde saí desesperado
a procurar-te.

E, de repente, tomei-te nos braços, afaguei-te a cintura,
recolhi-te ao meu peito.
Teu coração inquieto pulsava mais que os córregos das montanhas,
batia asas de pássaro encandeado.

E de repente saímos livres e felizes como simples animais de Deus
com a direção aos ventos.

Faminto, colhi-te como um fruto! Sedento, bebi-te como a água!
Marquei meus dentes em tua carne
e escorreste pela minha boca, pelo meu pescoço, pelo meu peito.

Meus braços foram tuas formas. Minhas mãos te conheceram.
Desmanchei-te os cabelos, e me perdi.
Nossas bocas se uniram, e se esqueceram.

Tatearam meus lábios, escalando cumes, devassando vales,

E fiquei em ti, vivo e silencioso como o sangue nas veias
como a seiva na raiz
e desci sobre ti e me entranhei, como a chuva descendo e molhando
e quando falamos era música em tua vida!


J. G. de Araújo Jorge