Adornou o meu quarto a flor do cardo,
Perfumeio-o de almíscar rescendente;
Vesti-me com a púrpura fulgente,
Ensaiando meus cantos, como um bardo:
Ungi as mãos e a face com o nardo
Crescido nos jardins do Oriente,
A receber com pompa, dignamente,
Misteriosa visita a quem aguardo
Mas que filha de reis, que anjo ou que fada
Era essa que assim a mim descia,
Do meu casebre à úmida pousada?...
Nem princesa, nem fadas. Era flor,
Era a tua lembrança que batia:
'As portas de ouro e luz do meu amor!'
Antero de Quental