quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Se me chamasses

Brenda Burke 


Se me chamasses, sim,
se me chamasses!

Deixaria tudo,
arrojaria com tudo:
preços, catálogos,
o azul do oceano nos mapas,
os dias e suas noites,
telegramas antigos
e um amor.
Tu, que não és meu amor,
se me chamasses!

E ainda espero tua voz:
telescópios abaixo,
lá da estrela,
por espelhos, por túneis,
por anos bissextos
pode ela vir. Não sei donde.
Do prodígio, sempre.
Porque se tu me chamares
- se me chamasses, sim, se me chamasses! –
será de um milagre,
incógnito, sem o ver.

Nunca dos lábios que te beijo,
nunca da voz que diz:
“Não vás embora”.


Pedro Salinas