sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Judith Rossner, De bar em bar


- Gosto de você desde que a conheci, Theresa. Acho-a uma pessoa encantadora e interessante.
Ela olhou para ele, espantada.
Acho-a uma pessoa encantadora e interessante.
O que podia responder? Ele devia estar cego. Ou louco. Ou ambas as coisas. Talvez fosse como Victor. Talvez tivesse elaborado uma fantasia a seu respeito que não tivesse nada a ver com o que ela na realidade era. Se o rapaz tivesse dito que a amava porque ela era isto ou aquilo, teria sido bem mais fácil, pois ela poderia ter caçoado dele. Ter-se fixado na palavra “amor”. Provado, por a mais b, que o que ele sentia por ela não podia ser amor. Mas isto era muito mais difícil. Talvez ele soubesse disso; talvez tivesse dito isso de propósito. Ele era inteligente, James Morrison. Ela nunca o negara. Era meio cegueta, mas inteligente. Ela sorriu:
- James James Morrison Morrison Weatherby George Duprez – recitou...

*****

-  A verdade – disse James – é que escolhi crer nele. Nem sei direito se essa é a verdade. Acredito nele procuro não analisar minha crença. Porque, se essa análise fosse negativa... eu me sentiria completamente só. E conheceria o desespero.
E conheceria o desespero.
Olhou para ele, espantada.
Eu me sentiria completamente só e conheceria o desespero.
- Bem-vindo o desespero – disse Theresa, com um sorriso amargo e deixando-se dominar pela confusão.

*****

Theresa já percebera, anteriormente, que, dos compartimentos em que dividira sua vida, apenas alguns eram considerados reais. A escola era real. As visitas a seus pais eram reais. Que mais? Tony era irreal. James... James era real. Que queria ela dizer com real? Tony não era menos ele mesmo, não era menos autêntico do que James. Talvez a diferença estivesse no que ela era quando estava com os dois. Sob certos aspectos, era mais ela mesma com James do que com qualquer outra pessoa. Talvez fosse por isso que sempre se sentia tensa com ele; toda ela se entregava, mesmo quando apenas para mantê-lo à distância. Toda ela, exceto seu lado sexual. E isso tornava tudo ainda mais difícil. Tinha de definir constantemente seus limites, por receio de que ele os ultrapassasse. Enquanto, com Tony, não havia limite senão em volta de sua mente, que não era suscetível de uma invasão por parte dele.

*****

Certa vez, sua mãe chamou o médico para que ele visse se Theresa não se estava prejudicando com todas aquelas caminhadas, e o médico respondera que, se ela sentisse algo, provavelmente não andaria tanto. Mas isso não era bem verdade. Às vezes, doía, mas ela continuava andando porque a necessidade de se mexer era muito mais forte do que a dor. A necessidade de saber que podia mexer-se. Que não estava sendo cerceada. Que era livre. A liberdade não era um vago conceito filosófico; era, pura e simplesmente, movimento.


Judith Rossner, De bar em bar