segunda-feira, 15 de novembro de 2010


Nenhum de nós sabia exatamente
a extensão e os danos provocados
pela palavra dita

enquanto eu ocupava as horas lendo
a mesma página triste
de um romance qualquer

tu explicavas-me a arquitetura
branca e ordenada
dos teus sentimentos

e tentavas delicadamente
dizer o indizível
"não há lugar para ti no meu mundo"

Mas era à noite
na solidão do meu quarto medieval
que eu tinha de reinventar o fogo

para queimar nele
todos os livros e fazer arder
a rosa amarela dos enganos

- e a angústia
esse fruto que nos provoca a náusea
amadurecia lentamente

no interior da minha cabeça
na forma de dois versos
inacabados.



Oscar Mourave