O Prof. Martin Eagle era alto e muito magro, com cabelo encaracolado preto-grisalho, um jeito suavemente sarcástico e belos olhos tristes, nos quais só reparava quando ele tirava os óculos e passava a mão pelo rosto. Era poeta e editara, por conta própria, um livro de poesia, conforme ela soube mais tarde através de duas colegas de classe, Carol e Rhoda, que também estavam apaixonadas pelo professor.
No primeiro dia de aula, ele leu um poema de Rainer Maria Rilke:
Que será de ti, Deus, quando eu morrer?
Quando eu, teu cântaro, me quebrar?
Quando eu, teu refrigério, secar?
Eu sou o teu traje, tua profissão,
Perdendo-me, perdeu a tua função...
A seguir, perguntou se alguém, na classe, pensava em ser escritor. Tanto Carol quanto Rhoda levantaram as mãos. O Prof. Eagle disse, então, que ninguém deveria pensar em escrever, se não esperasse criar peças perfeitas, como a que acabara de ler. Poucos conseguiam, mas os que não estivessem dispostos a tentar deveriam desistir antes mesmo de começar. Carol e Rhoda assentiram, solenes.
- Tendo deixado isso bem claro - prosseguiu o Prof. Eagle, com seu jeito triste -, devo-lhes dizer que é meu objetivo ensinar àqueles suficientemente inteligentes para saber que não têm talento - fez uma pausa -, mas que chegam para mim dizendo: "Prof. Eagle, sei que não sou nenhum escritor nem nunca serei, mas quero que o senhor me ensine a escrever uma simples frase sem dar vexame" a fazer exatamente isso: escrever frases simples sem medo de dar vexame. Alguma pergunta?
Quase todos os alunos ficaram calados, sentindo-se vagamente colocados em seus lugares, mas sem saber precisamente que lugares eram esses. Carol e Rhoda pareciam aniquiladas.
Deviam escrever, na primeira pessoa, uma breve descrição de uma experiência desagradável. Não deveriam enfeitá-la com bobagens, como essas franjas de papel prateado que se põem nas coxas dos perus. A adjetivação, quando exigida por motivo de clareza, deveria ser simples e direta: bonito, feio, verde, roxo, etc. As portas seriam abertas ou fechadas, não escancaradas. Não haveria luar derramando-se por entre venezianas; derramamentos, só líquidos. Estavam entendidos?
Aproximou-se da janela e olhou para o pátio. O sol derramava-se pela janela escancarada e fulgia na aliança dele.
Judith Rossner, De bar em bar