segunda-feira, 15 de novembro de 2010
As ações e opiniões conscientemente expressas são, em geral, suficientes para a finalidade prática de julgar o caráter dos homens. As ações merecem ser consideradas antes e acima de tudo, pois muitos impulsos que irrompem na consciência são ainda reduzidos a nada pelas forças reais da vida anímica, antes de amadurecer sob a forma de atos. Com efeito, tais impulsos muitas vezes não encontram nenhum obstáculo psíquico a seu progresso, exatamente porque o inconsciente tem certeza de que serão detidos em alguma outra etapa. De qualquer modo, é instrutivo tomar conhecimento do terreno tão revolvido de onde brotam orgulhosamente nossas virtudes. É muito raro a complexidade de um caráter humano, impelida de um lado para outro por forças dinâmicas, submeter-se a uma escolha entre alternativas simples, como levaria a crer nossa antiquada doutrina ética.
E quanto ao valor dos sonhos para nos elucidar o futuro? Naturalmente, isso está fora de cogitação. Mais certo seria dizer, em vez disso, que eles nos elucidam o passado, pois os sonhos se originam do passado em todos os sentidos. Não obstante, a antiga crença de que os sonhos preveem o futuro não é inteiramente desprovida de verdade. Afinal, ao retratar a realização de nossos desejos, os sonhos decerto nos transportam para o futuro. Mas esse futuro, que o sonhador representa como presente foi moldado por seu desejo indestrutível à imagem e semelhança do passado.
Sigmund Freud, A interpretação dos sonhos