sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Janis Joplin "little girl blue"


Janis
É tão triste ouvir
tanto sentimento disperso, perdido no tempo.
Alguém sonhou por mim, por nós,
por não sei quantos mais,
lançando sobre a Terra inteira
uma semente de Sol.
Foi tão lindo ouvir
a verdade do teu nome tanto tempo depois
porque a arte está além do tempo,
do tempo e do espaço,
arremessando à terra e ao céu
uma mensagem muito real.
Mensagem atual
para outras gerações que estão vindo aqui.
Novos rebeldes estão ligados às ondas
que o teu canto abriu no mar,
mesmo porque uma realidade opressiva
continua a existir.
É tão triste possuir
a consciência da liberdade
sem poder nada mudar.
Levantar as bandeiras do que poderia ser
mas, percebendo que o mundo é tão falso,
pouco podendo fazer.
O violão tocando
a canção de uma guitarra que calou a voz.
A poesia em teu olhar distante
gritando imagens,
palavras nuas encobertas pelo grande silêncio.
É bonito amar.
Tudo é tão belo e tão necessário
mas poucos compreendem isso.
Resta repetir, bem alto, o toque de Martin Luther King:
"Eles roubaram a nossa liberdade
e nós a queremos de volta".
Não há nada além
da vontade de viver que ainda existe em nós
fazendo nascer
o mesmo que muitos imaginaram quando quiseram cantar
ou escrever poemas em pranto
no espelho radiante das águas.
É verdade, sim:
eu sou apenas um poeta, um sonho da chuva.
Você foi um pouco mais do que nós quando decidiu viver,
deixando a saudade em sombras
no leito do amanhecer.
Fugiu do mundo inteiro.
Não queria ir para a guerra
mas não encontrou a paz.
Paz e amor a gente inventava
mas não deu para segurar
quando os senhores da guerra
mataram as flores do paraíso.
É o fim do sonho.
É o fim de todo um mundo que nem ao menos começou.
O sistema derrotou a utopia
e todos nós perdemos novamente.
Estamos enfiados nas garras do maldito poder.
Janis Joplin, eu agora sei:
a lembrança estacionada na aventura do tempo
conta estórias de uma realidade que nós desejávamos viver.
A beleza seria algo real
se a nossa revolução viesse a acontecer.
Poderia ser
Joan Baez ou Ângela Davis
ou simplesmente você,
mulher, ser humano, ser profundo
como nós poetas, "beatniks", malucos, ciganos,
"drop-outs" da vida.
Escuto a tua voz
em discos antigos dos anos 60
ou do início dos 70, quando você se foi,
deixando o teu estranho nome escrito
em um oceano de estrelas.
Woodstock se foi.
O amor que todos encontraram na liberdade de ser,
quebrando limites, regras, países,
fazendo as cabeças,
e se acabando como o fogo no gelo das montanhas.
Tocando o teu estranho blues,
amargurado, triste, liberto,
eternamente eterno,
na distância do pensamento eu sinto
tua voz nos discos,
tua alma ao vento,
Pérola de luz.

Luiz Lima