quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Friedrich Nietzsche, Ecce homo


PODER ser inimigo, ser inimigo – isso talvez pressuponha uma natureza forte, em todo o caso é uma condição de toda a natureza forte. Ela precisa de resistências. O páthos agressivo faz parte, necessariamente, da força, assim como os sentimentos da vingança e da revanche fazem parte da fraqueza. [...]
Subjugar inimigos iguais... Igualdade ante o inimigo – o primeiro pressuposto de um duelo honesto. Onde a gente despreza, não se pode fazer guerra; onde a gente ordena, onde a gente vê alguma coisa abaixo de si não se deve fazer guerra. Minha práxis na guerra pode ser resumida em quatro sentenças. Primeiro: eu ataco coisas que são vitoriosas – caso for necessário eu espero até que elas sejam vitoriosas. Segundo: eu apenas ataco coisas sobre as quais jamais encontraria aliados, contra as quais tenho de me virar sozinho – contra as quais tenho de me comprometer sozinho... Jamais dei um passo em público que não comprometesse: é esse o meu critério da ação correta. Terceiro: eu jamais ataco pessoas – eu apenas me sirvo da pessoa como de uma poderosa lente de aumento, através da qual é possível tornar manifesta uma ação de necessidade comum, mais furtiva e pouco tangível. [...] Quarto: eu apenas ataco coisas contra as quais todo o tipo de diferença é excluído, contra as quais não existe qualquer segundo plano relativo à más-intenções. Pelo contrário, atacar é uma prova de bem-querer em mim e, conforme as circunstâncias, de agradecimento. Eu honro, eu distingo com o fato de unir meu nome a uma coisa, a uma pessoa: contra ou a favor – para mim não importa.

Friedrich Nietzsche, Ecce homo