A beleza é uma forma do gênio... mais elevada, na verdade, que o gênio, pois não precisa ser definida. É uma das realidades absolutas do mundo, como o sol, a primavera, ou o reflexo nas águas sombrias, dessa concha de prata a que chamamos lua. Isso não pode ser discutido. É uma soberania de direito divino. Tornam-se príncipes os que a possuem. Sorri? Ah! Não sorrirá quando a tiver perdido... Costuma-se dizer que a beleza é somente superficial. Pode ser que seja. Mas não tão superficial, pelo menos, como o pensamento. Para mim, a beleza é a maravilha das maravilhas. Só o medíocre não julga pelas aparências. O verdadeiro mistério do mundo é o visível e não o invisível... Sim, Senhor Gray, os deuses foram generosos para com o senhor. Mas o que os deuses dão, tiram logo em seguida. O senhor não tem senão uns poucos anos para viver verdadeiramente, perfeitamente, plenamente. Quando a sua juventude se desvanecer, a sua beleza ir-se-á com ela, e então descobrirá que nada ficou dos teus triunfos, ou terá de se conformar com esses êxitos insignificantes, que a lembrança do passado torna mais amargos que derrotas. Cada mês, à medida que passa, aproxima o senhor cada vez mais de algo terrível. O tempo tem ciúmes do senhor e luta contra os seus lírios e as suas rosas. O Senhor empalidecerá, vincar-se-ão as suas faces e apagar-se-ão os seus olhos. Sofrerá horrivelmente... Ah! Aproveite a sua juventude enquanto a tem. Não esbanje o ouro dos seus dias dando ouvidos aos tediosos, tentando melhorar o fracasso sem esperança ou desperdiçando a sua vida com o ignorante, com o fútil, com o vulgar. São estes os objetivos doentios, os falsos ideais da nossa época. Viva! viva a maravilhosa vida sua! Não perca coisa alguma dela . Busque sempre novas sensações. Que nada o atemorize...
Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray