sexta-feira, 17 de setembro de 2010

“O Amor”


Talvez, quem sabe, um dia
por uma alameda do zoológico ela também chegará
ela que também amava os animais
entrará sorridente assim como está
na foto sobre a mesa

Ela é tão bonita
ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão
o século trinta vencerá
o coração destroçado já
pelas mesquinharias

Agora vamos alcançar
tudo o que não pudemos amar na vida
com o estelar das noites inumeráveis

Ressuscita-me
ainda que mais não seja
por que sou poeta
e ansiava o futuro

Ressuscita-me
lutando contra as misérias
do cotidiano
ressuscita-me por isso

Ressuscita-me
quero acabar de viver
o que me cabe, minha vida
para que não mais existam
amores servis

Ressuscita-me
para que ninguém mais tenha
que sacrificar-se
por uma casa, um buraco

Ressuscita-me
para que a partir de hoje
a partir de hoje
a família se transforme

E o pai
seja pelo menos o universo
E a mãe
Seja no mínimo a terra.
A terra
.
(Adptação de Caetano Veloso para a poesia de Vladimir Maikóvski)

*

RESSUSCITA-ME!.
Vladimir Maiakóvski

Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo,
a mãe,
pelo menos a Terra.