quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Pobre velha Maria


Pobre velha Maria...
não reze para o Deus inclemente que frustrou suas esperanças
sua vida inteira,
não peça clemência desde a sua morte,
sua vida foi horrivelmente coberta de fome
e termina coberta pela asma.

Mas eu lhe quero anunciar,
numa voz baixa, viril de esperanças,
a mais vermelha e viril das vinganças.

Quero jurá-la na exata
dimensão de meus ideais.
Pegue esta mão de homem que parece a de um menino
entre as suas, polidas pelo sabão amarelo,
esfregue os calos duros e os nós puros
na suave vingança de minhas mãos de médico.

Descanse em paz, Maria,
descanse em paz, velha lutadora,
seus netos viverão
todos para ver a alvorada.


Ernesto Guevara,1954
(Tradução de Carlos Amorim)


*Homenagem à sua paciente, ainda na época de médico, que morre vítima da asfixia da asma e do descaso social.