sábado, 14 de agosto de 2010

O PRIMEIRO AMOR



Dizem
que o primeiro amor é o mais importante.
Isso é muito romântico,
mas não é o meu caso.

Algo entre nós houve e não houve,
se deu e se perdeu.

Não me tremem as mãos
quando encontro as pequenas lembranças
e o maço de cartas atadas com barbante
- se ao menos fosse uma fita.

Nosso único encontro anos depois
foi um diálogo de duas cadeiras
junto a uma mesa fria.

Outros amores
ainda respiram profundamente em mim.
Este não tem fôlego para suspirar.

E no entanto tal como é
consegue o que aqueles ainda não conseguem:
deslembrado, 
nem sequer sonhado,
me acostuma com a morte.


Wislawa Szymborska