terça-feira, 10 de agosto de 2010

Epícuro


Estou orgulhoso, sim, por sentir o caráter de Epícuro como ninguém talvez o sente, e apreciar, em tudo que aprendo a seu respeito, em tudo que leio dele, a felicidade de uma tarde da Antiguidade... vejo seu olhar desdobrando-se sobre vastos mares esbranquiçados, para muito além das falésias onde repousa o sol, enquanto animais de todos os tamanhos vêm brincar à sua luz, tranqüilos e seguros como esta luz e este mesmo olhar. Semelhante felicidade só pode ter sido inventada por alguém que sofria sem descanço; é a felicidade que viu sossegar sob o seu olhar o mar da existência e que de ora em diante não se farta de ver esta superfície ondulante, esta pele delicada e fremente do mar; nunca houve até então semelhante modéstia na voluptuosidade.


Friedrich Nietzsche, A Gaia Ciência, af. 45