segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Cogito


eu sou como eu sou
pronome pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora sem grandes segredos
dantes sem novos secretos
dentes nesta hora

eu sou como eu sou
presente desferrolhado
indecente feito um pedaço
de mim

eu sou como eu sou
vidente e vivo
tranqüilamente
todas as horas do fim.


Torquato Neto


“Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela (…). Quem não se arrisca, não pode berrar.”
“Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar”. Thiago tinha dois anos quando Torquato se matou.