quinta-feira, 29 de julho de 2010

As minhas revoluções



Nunca fiz o que esperavam que eu fizesse: não me tornei o macho reprodutor latino-americano agressivo, que desrespeita as mulheres e é cruel com os animais. Brinquei de bonecas com a minha irmã, chorei em público, falhei nalguns exames mas não na vida. Não permaneci na minha classe social. Desconfiei sempre dos sacerdotes que preferem Deus aos homens, e dos cientistas que põem a ciência acima da Humanidade. Minhas revoluções, amar mais e melhor: amar as mulheres, amar os homens, escolher hoje um e amanhã, quem sabe, outra, amar o ser humano. Desconfiar dos líderes, dos homens e mulheres que têm opiniões formadas. Desconfiar dos homens que não sabem cozinhar (porque estes não têm, por completo, a compreensão do que significa a autonomia), desconfiar das mulheres que educam os homens de forma diferente das mulheres. As minhas revoluções: educar e ser educado ao mesmo tempo, ensinar a aprender. As minhas revoluções: construir uma casa sólida, confortável, engordar, conhecer alguém, apaixonar-me, abandonar a casa, passar fome uma semana, emagrecer, chorar e começar tudo de novo. As minhas revoluções: ler Marx, acreditar nele, para desacreditá-lo em seguida, superá-lo e voltar a lê-lo. As minhas revoluções: dizer não, dizer sim, dizer talvez e nunca ter certeza das coisas. As minhas revoluções: abandonar Caçapava, abandonar Foz do Iguaçu, abandonar Manaus, abandonar o Rio de Janeiro, abandonar Lisboa e abandonar no futuro Tunis - e no intervalo, amar mais e melhor. As minhas revoluções: amar os homens, os inteligentes porque são inteligentes, os feios porque são feios, os vaidosos pela sua vaidade, os inseguros pelas suas inseguranças, amar mais e melhor. As minhas revoluções, as minhas pequenas revoluções quotidianas.

- e acreditar que sim, que a igualdade é dos mitos, o mais bonito.


Oscar Mourave