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| Alexei Antonov | 
Imenso trabalho nos custa a flor. 
Por menos de oito contos vendê-la? Nunca. 
Primavera não há mais doce, rosa tão meiga 
onde abrirá? Não, cavalheiros, sede permeáveis.
Uma só pétala resume auroras e pontilhismos, 
sugere estâncias, diz que te amam, beijai a rosa, 
ela é sete flores, qual mais fragrante, todas exóticas, 
todas históricas, todas catárticas, todas patéticas.
Vede o caule, 
traço indeciso.
Autor da rosa, não me revelo, sou eu, quem sou? 
Deus me ajudara, mas ele é neutro, e mesmo duvido 
que em outro mundo alguém se curve, filtre a paisagem, 
pense uma rosa na pura ausência, no amplo vazio.
Vinde, vinde, 
olhai o cálice.
Por preço tão vil mas peça, como direi, aurilavrada, 
não, é cruel existir em tempo assim filaucioso. 
Injusto padecer exílio, pequenas cólicas cotidianas, 
oferecer-vos alta mercância estelar e sofrer vossa irrisão.
Rosa na roda, 
rosa na máquina, 
apenas rósea.
Selarei, venda murcha, meu comércio incompreendido, 
pois jamais virão pedir-me, eu sei, o que de melhor se compôs na noite, 
e não há oito contos. Já não vejo amadores de rosa. 
Ó fim do parnasiano, começo da era difícil, a burguesia apodrece.
Aproveitem. A última 
rosa desfolha-se.
Carlos Drummond de Andrade
