nas pontas dos pés
eu, bailarina
toco de leve a corda
sobre o abismo.
equilibrista,
os músculos retesos
atenta a cada gesto ínfimo;
que não me atire,
não me mate,
não incida íntimo
e amargo
no meu peito
e abaixo dos meus pés.
voam meus olhos a olhar as asas,
voam este vôo sem retorno,
nas asas de todos os desejos.
no tênue tecido destes versos,
navegam oceânicos pensamentos,
imagens, memória e canções.
breve, cuidadosa dos meus passos,
no peito
o sonho irresistível,
na alma o sonho
incontestável,
toco a sapatilha nesta corda.
Silvia Chueire