quinta-feira, 20 de maio de 2010

Nicolas Behr


 subo aos céus
pelas escadas rolantes
da rodoviária de brasília
o corpo de cristo
aqui não é pão,
é pastel de carne
o sangue de cristo
aqui não é vinho,
é caldo de cana
o padroeiro desta cidade
é dom bosco
ou padim ciço?


blocos eixos
quadras
senhores, esta cidade
é uma aula de geometria


entre,
entre por favor
entre blocos
entre quadras
entre,
entre por favor
.

Vozes do Cerrado

brasília, brasília
onde estás
que não respondes?!
em que bloco,
em que superquadra
tu te escondes?!


no setor poético sul
saio pela emergência
no setor mortífero norte
escapo pela válvula
no setor da radioatividade sul
aperto o botão de alarme
vou entrar numas
pra sair dessa
e não cair em outra


Superquadras

na entrada
um quebra-molas
e uma banca de jornal
blocos blocos blocos
blocos blocos blocos
blocos blocos blocos


minha poesia
é o que eu estou
vendo agora:
um homem
atravessando
a superquadra


Evangelho da realidade
Contra jotakristo
Segundo são lúcio.
Naquele dia, jotakristo,
Subindo aos céus num pé de
Pequi, disse aos candangos:
Felizes os que construíram
Comigo esta cidade pois
Irão todos para as satélites


apesar de viver no meu corpo,
tenho o hábito não o habitar
estranho este corpo, evito-o
(na verdade, maltrato-o como tudo que amo)
(por isso e por si só o poema
toma corpo e incorpora o medo de si mesmo)
confesso, constrangido,
que, às vezes, habito este corpo sim
mas moro num apartamento
(quatro paredes sem pele)
às vezes nos encontramos – eu e meu corpo –
e nos estranhamos
corpo – este objeto móvel, falante, tubo digestivo –
que me acompanha e que não ouço
a quem interessar possa, informo que
a partir da semana que vem
não morarei mais em mim
me mudarei para taguatinga

Nicolas Behr