quarta-feira, 5 de maio de 2010

Toca-me onde me dói e verás


Toca-me onde me dói e verás 
uma flor a abrir-se lentamente 
sobre a pele, a maravilha nunca 
adivinhada de um mistério. Esta 

é a tua vez de o desvendares – 
paixão é uma palavra demasiado 
antiga no meu corpo, já não sei a 
última vez, a única vez. Toca-me 

por isso devagar, não me lembro 
da primavera que fez nascer a 
doença sobre a ferida, não sinto 
o recorte da cicatriz que o tempo 

pousou nela. Agora chama-me ao 
teu peito com as mãos, tal como a 
chuva chama pelos narcisos sem 

cessar, ano após ano; diz o meu 
nome com os dedos a serem rios 
que latejam no coração adormecido 

de uma aldeia. Não me adivinhes – 
lá, onde me doer, vou recordar-me.


Maria do Rosário Pedreira