sábado, 1 de maio de 2010

Despedida da paisagem


Rosanne Pomerleau 

Não quero mal à Primavera
por ela aí estar de novo.
Não a culpo por,
como em cada ano,
cumprir as suas obrigações.

Compreendo que a minha tristeza
não detém a vegetação.
O cálamo se vacila
é só ao vento.

Não me causa dor
que sobre a água os tufos de amieiros
de novo tenham com que ramalhar.

Tomo em consideração
que, como se vivesses ainda,
a margem de certo lago
permaneça linda como foi.

Nada tenho contra
esta vista, à vista
da baía esplendorosa de sol.

Consigo até imaginar
que outros que não nós
se sentem neste momento
no tronco do pinheiro derrubado.

Respeito o seu direito
ao murmúrio, ao riso,
a um silêncio feliz.

Apostaria mesmo
que o amor os une
e que ele a envolve
com um braço vivo.

A passarada nova
rumoreja nos caniços.
Sinceramente lhes desejo
que a ouçam.

Não peço qualquer mudança
às ondas de junto à margem.
desenvoltas, preguiçosas,
rebeldes ao meu querer.

Nada exijo
aos fundos da água sob o bosque,
safira agora
e logo esmeralda
e logo negros.

Com uma coisa não concordo.
Em regressar lá.
Desisto dele -
do privilégio da presença.

Pois quanto baste eu Te sobrevivi,
apenas quanto baste,
para pensar com distância.


Wislawa Szymborska