sábado, 10 de abril de 2010

A única resposta


Jantávamos os dois pela primeira vez:
amizade ou amor, pouco interessava
desde que ali estivesses. O meu mundo
ia mudando à medida do teu,
a cada gesto vão da vã conversa
antes que fôssemos pIo Bairro Alto
e enfim o Lumiar, a tua casa.

Eu podia contar uma história, dizer
como aquele rosto atravessava o meu - mas não,
«nada de narrativas, nunca mais».
Apenas a certeza de estar morto
há tanto tempo, que já não me lembro
de cor nenhuma dos teus olhos. Não,
já não existe o dia nem a noite
e este silêncio deve ser talvez
a única resposta. É bem melhor
ficar à espera de que não regresses.

Fernando Pinto do Amaral