segunda-feira, 1 de março de 2010

Ah, falemos da brisa





Eu dizia:
"nenhuma brisa é triste",
e procurava água, lábios,
um corpo
onde a solidão fosse impossível.

Mas quem sabe dessa música
cativa nos meus dedos?
E depois, como guardar um beijo,
mar doirado ou sombra
desolada?


Recordava um rio,
álamos,
o sabor nupcial da chuva,
tropeçava em lágrimas e soluços
e lágrimas, e procurava.

Como quem se despe
para amar a madrugada nas areias,
eu dizia: "nenhuma brisa é triste,
triste", e procurava.

E procurava.

(in Até Amanhã,  Eugénio de Andrade)