Christer Karlstad. |
A princípio fazia-me sofrer muito a ideia de parecer ridículo. Não parecê-lo, mas o sê-lo. Eu sempre fui ridículo, e eu já o sabia talvez desde que nasci. Talvez já aos sete anos eu me apercebesse perfeitamente de que era ridículo. Depois fui para a escola, e a seguir para a Universidade, mas… Quanto mais aprendia, mais obrigado me via a reconhecer a minha condição de criatura ridícula. De maneira que todos os meus estudos universitários não tinham outro objetivo senão o demonstrarem-me e explicarem- me a mim próprio, nas minhas meditações, que eu era um ser ridículo. E, na vida, acontecia- me o mesmo com a ciência. Todos os anos aumentava e se fortalecia em mim o conhecimento da minha condição ridícula, em todos os sentidos. Toda a gente se ria de mim. Mas ninguém sabia, nem suspeitava sequer, que, se existia no mundo um homem que soubesse melhor do que todos eles como eu era ridículo, esse homem era eu próprio. E era precisamente isso o que mais me enraivecia: que não soubessem. Mas disso tinha eu a culpa. Fui sempre tão orgulhoso que por nada desse mundo o teria confessado a ninguém. E esse orgulho ia crescendo também em mim com os anos, e se eu me tivesse permitido confessar a alguém, fosse a quem fosse, espontaneamente, que era um homem ridículo, teria imediatamente metido um tiro na cabeça, na tarde do mesmo dia. Oh, quanto me fez sofrer, na minha mocidade, o medo de não poder talvez conter-me e de dizê-lo de repente, eu próprio, aos meus companheiros! Mas, com o andar do tempo, quando me tornei um rapazote e, apesar de continuar reconhecendo cada vez melhor todos os anos essa terrível condição minha, fui-me sentindo cada vez mais tranquilo… Não sei por quê… Precisamente por alguma razão que ainda hoje ignoro. Talvez por, nessa altura, se ter introduzido na minha alma o receio perante determinado conhecimento que humanamente era mais elevado que o meu eu… E que foi a convicção adquirida de que tudo neste mundo é, afinal, uno.
Fiódor Dostoiévski, in “O Sonho de um Homem Ridículo”