terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Nicolas Ségur, O Leito Conjugal
O ciúme! Este sentimento atenua-se, com o tempo, nos seres que refletem. Não mais causa dramas senão nos primitivos, nos impulsivos. Éramos ciumentos porque estávamos acostumados a considerar que a mulher, pelo fato de partilhar do nosso prazer, era coisa nossa, um objeto que nos pertencia e que não podíamos consentir em ceder a outrem. Quando a noção de que a mulher é livre ao mesmo título que nós, que é nossa igual, for adotada por todos – que digo! – quando se tornar evidente, em vez de ciúme, será dor que sentiremos perante o seu abandono. Já hoje a cólera dos maridos enganados não mais provém, na mor parte dos casos, senão do receio que têm da opinião pública, e não do seu amor lesado. Temos medo de sentirmo-nos em estado de inferioridade, de vermo-nos ridicularizados. Mas também por esse lado as convenções sociais modificam-se, perdem-se uma após outra. O ridículo ligado à pessoa do marido enganado escapa de mais em mais às novas gerações. O adultério cessará, por assim dizer, de chamar a atenção, pelo menos nas grandes cidades. O que perdurará será apenas o poder do sentimento, o invencível domínio do amor que aliena um coração.
Nicolas Ségur, O Leito Conjugal