escuta através das palavras,
além delas,
o outro lado do muro.
escuta a ternura.
não te atenhas ao rabisco das letras,
à sonoridade,
ou à forma.
escuta as outras canções que canto,
o colo ofertado sem medo,
as palavras a brotarem
das minhas mãos,
da minha pele,
do meu sexo.
escuta os gestos, os braços,
as coxas trêmulas,
as palavras indizíveis,
as ditas,
as obscenas.
escuta a flor que renasce
e não diz versos, mas deseja.
e desejando encontra a poesia
a liberdade da paixão,
o poema.
escuta o que digo
para além do poema.
o olhar oceânico,
de quem sorri e chora
e não sabe ainda nada.
escuta-me
ou nunca saberemos
o que poderia ser.
Silvia Chueire