Noites de lanças e estandarte azul,
Não vertes sobre a terra desconforme
O teu bálsamo antigo de sossego:
Vem antes o veneno da tua esfera.
Que destruições geraste no teu ventre
Enquanto os homens se velavam a face!
Templo de experiência e expiação,
O incenso da matéria se respira
Nas tuas arcadas nuas e rochosas.
Somos agora a raça clandestina
Que, noite hostil, ainda não pudeste
Das dobras dos teus panos remover:
Ululantes erramos pelo mundo,
Conduzindo nossa morte corporal.
Murilo Mendes, em "Antologia Poética", Rio de Janeiro: Editora Agir, 1964.